quinta-feira, 15 de julho de 2010

2 + 2 = 5

Chovia bastante e o espelho do banheiro embaçou quando liguei o chuveiro. Tentei escrever algo, mas me lembrei que dedos no espelho não combina mais com a minha idade. É o mesmo que mascar chiclete e engolir. Acreditar no amor ou assistir "E.T" e querer voar com a bicicleta?! Passado!
Na mesa, a xícara branca mais parecia um convite. A fumaça que evaporava me dava a impressão de que o café poderia me esquentar mais que o cachecol. Talvez se eu fosse criança, acreditasse que fosse capaz de esquentar o meu coração.
Escovar os dentes com o dedo e engolir o creme dental, pentear os cabelos com o garfo, apertar a campanhia do vizinho, subir em árvores ou descer a rua num carrinho de rolemã... estava tudo tão distante, que eu era obrigado agora a me levantar e ir trabalhar, pois os cinco minutos sentado para tomar meu café matinal já haviam se tranformados em dez.
O telefone gritando o dia inteiro ao cubo, cinquenta e-mails na caixa de entrada é igual a "X", somado a raiz quadrada de mais cento e poucos problemas e quinze mensagens de texto. QWERT freneticamente pressionados. Como resolver essa complicada equação? Ainda seria mais fácil do que eu me ler.
Desci do 17° andar, abri o guarda chuva preto. O céu estava cinza. Trânsito caótico, luzes vermelhas de um lado, brancas de outro. O vidro traseiro me lembrava o espelho do banheiro. Liguei o desembaçador.
Ouvir alguma música do meu repertório -repetido, diga-se de passagem- fazia a minha volta pra casa também parecer como todas as outras. Deitado na sala, o filme de ontem era mais nostálgico, mais melancólico, mais parecido com o autor do texto. "Sempre ao seu lado" foi mais inteligente do que ver "A trilha" que só vale os primeiros 40 minutos. Depois ficou tão previsível e chato como o meu dia de ontem e o de hoje. Ainda sobrou tempo pra eu lembrar de você e tentar entender por que tanta distância... não consegui. Enquanto meus pés tentavam se aquecer sob o cobertor de lã verde, na cama comecei a imaginar se o sol voltaria a brilhar e esquentar na manhã seguinte... se eu precisaria ligar o desembaçador novamente... se eu conseguiria resolver minha equação... e se eu te entenderia...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Amanhã fico triste... hoje não!


Amanhã fico triste,
Amanhã.
Hoje não.
Hoje fico alegre.
E todos os dias,
Por mais amargos que sejam,
Eu digo:
Amanhã fico triste,
Hoje não.
(Texto encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz)