sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Ontem


Foto: Filme Closer
"-Tudo é uma versão de outra coisa."
"-Você não entende nada de amor porque nunca soube o que é ceder."
"-Mentir é a melhor coisa que uma mulher pode fazer sem tirar a roupa, mas fica melhor se ela tirar!"

Ontem eu cai da montanha, desci rolando por entre amendoeiras e pés de pitangas, alguns metros, talvez três, sete ou treze, não me recordo ao certo.
Tropecei em algumas pedras e falsos momentos que acreditei serem fáceis de ultrapassar, de pular... estava enganado.
Meu joelho doeu, mas consegui me levantar e contornar suas indiferenças, mas logo depois da primeira curva, me encontrei com o seu sarcasmo... aí não há analgésico que resolva. Desmoronei novamente.
Fiquei uma noite deitado, ao lado de sua individualidade, ela insistia em fingir que eu não estava lá! (óbvio)
Quando acordei e notei que estava com frio, li seu bilhete e imaginei você por aí, com seus amores. Quanto desamor.. Minha coberta estava no armário, longe dali.
Sua ideologia e a sua meia dúzia de idéias idiotas sobre mim, esqueceram de me avisar que você havia partido. Saudade dói. Você não estava lá e senti medo.
Tomei um xícara de chá enquanto tentava assimilar a sua falta de vontade.
Subi um lance de escadas... primeiro pisei em quase todos os meus princípios, depois em todos os meus sentidos, corri atrás de você com força e tênis adidas para corrida.
Escorreguei... nem foi preciso cascas de bananas, era sua indelicadeza... peitei sua arrogância... passei a mão na sua cabeça... mas continuava a cair.
Enquanto a lua iluminava o mar de ilusões dentro do meu peito e meu coração batia em descompasso, observei que estava no marco zero. Altitude zero. No plano. Tinha despencado até o chão... eu olhava para trás e via a imensa montanha.
Eu, que um dia estive no topo, já não tinha mais vontade de escalar a montanha de sonhos que construí pra nós.

Foto: Filme Closer
"-Dizer a verdade é o que nos diferencia dos demais animais."
"-Não diga que sou muito bom pra você. Eu sou, mas não diga."

quinta-feira, 15 de julho de 2010

2 + 2 = 5

Chovia bastante e o espelho do banheiro embaçou quando liguei o chuveiro. Tentei escrever algo, mas me lembrei que dedos no espelho não combina mais com a minha idade. É o mesmo que mascar chiclete e engolir. Acreditar no amor ou assistir "E.T" e querer voar com a bicicleta?! Passado!
Na mesa, a xícara branca mais parecia um convite. A fumaça que evaporava me dava a impressão de que o café poderia me esquentar mais que o cachecol. Talvez se eu fosse criança, acreditasse que fosse capaz de esquentar o meu coração.
Escovar os dentes com o dedo e engolir o creme dental, pentear os cabelos com o garfo, apertar a campanhia do vizinho, subir em árvores ou descer a rua num carrinho de rolemã... estava tudo tão distante, que eu era obrigado agora a me levantar e ir trabalhar, pois os cinco minutos sentado para tomar meu café matinal já haviam se tranformados em dez.
O telefone gritando o dia inteiro ao cubo, cinquenta e-mails na caixa de entrada é igual a "X", somado a raiz quadrada de mais cento e poucos problemas e quinze mensagens de texto. QWERT freneticamente pressionados. Como resolver essa complicada equação? Ainda seria mais fácil do que eu me ler.
Desci do 17° andar, abri o guarda chuva preto. O céu estava cinza. Trânsito caótico, luzes vermelhas de um lado, brancas de outro. O vidro traseiro me lembrava o espelho do banheiro. Liguei o desembaçador.
Ouvir alguma música do meu repertório -repetido, diga-se de passagem- fazia a minha volta pra casa também parecer como todas as outras. Deitado na sala, o filme de ontem era mais nostálgico, mais melancólico, mais parecido com o autor do texto. "Sempre ao seu lado" foi mais inteligente do que ver "A trilha" que só vale os primeiros 40 minutos. Depois ficou tão previsível e chato como o meu dia de ontem e o de hoje. Ainda sobrou tempo pra eu lembrar de você e tentar entender por que tanta distância... não consegui. Enquanto meus pés tentavam se aquecer sob o cobertor de lã verde, na cama comecei a imaginar se o sol voltaria a brilhar e esquentar na manhã seguinte... se eu precisaria ligar o desembaçador novamente... se eu conseguiria resolver minha equação... e se eu te entenderia...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Amanhã fico triste... hoje não!


Amanhã fico triste,
Amanhã.
Hoje não.
Hoje fico alegre.
E todos os dias,
Por mais amargos que sejam,
Eu digo:
Amanhã fico triste,
Hoje não.
(Texto encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças do campo de extermínio nazista de Auschwitz)

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Deixe ele vir...

Foto: Filme 500 dias com ela

"(...) -Smiths?!
-É...
-Adoro Smiths.
-O quê?
-Eu disse que adoro Smiths... É que você tem bom gosto musical.
-Gosta dos Smiths?
-É... 'To die by your side, such a heavenly way to die...' Eu adoro!
-Quem diria. (...)"

De cinza e nublado já basta o outono. Eu não entendo o seu receio e o que mais quero é que entenda meu anseio.
Quero sorrir lá fora com você.
Lá fora vou sorrir até meu rosto ficar azul.
Fora daqui, quando estaremos fora daqui? Fora da agitação, junto ao medo. Lá vai o medo de novo... lá vai o medo...
A sua fotografia me hipnotizou e ainda hoje eu a olhei novamente, olhei porque nela você me retribuiua o olhar, e o seu sorriso, ah que sorriso... me lembra aquelas crianças que aprontam e tentam disfarçar. Sorrio também, tímido como um pequeno garoto.
E os carros em alta velocidade fora daqui? A vida vai passando de novo, bem perto. Lá vai o medo outra vez... lá vai o medo...
Quero fazer parte do seu sorriso, e quero que sorria por eu fazer parte da sua vida.
Tenha certeza que eu não quero apenas 500 dias, quero todos os próximos.
Quero ouvir Radio Head e Los Hermanos, quero discutir a possível volta de Rodrigo Amarante e Marcelo Camelo. Quero tocar seus lábios e o seu coração, com a mesma facilidade.
Feche seus olhos verdes e deite junto a mim. Feche seus olhos e deite-se. Porque lá fora lá vai o medo... deixe ele ir...
Quero rir assistindo Friends com você, mesmo que pela décima vez, quero te dizer "eu te amo", mesmo que pela primeira vez.
Quero sentir os seus pés frios embaixo da coberta de lã, tomando chocolate quente. Deitados no sofá estamos isentos do resto do mundo, das incertezas e medos cotidianos. Vamos fazer um filme?
Pense em mim quando estiver caindo em depressão, mas não olhe para trás quando deixar a cidade.
Pense em mim quando ele te chamar para fora, mas não olhe para trás quando deixar a cidade.
Pense em mim quando você fechar os olhos, e não olhe para trás quando desatar todos os laços.
Pense em mim quando estiver desanimada, mas não olhe para trás quando deixar a cidade hoje.
Lá vem o medo outra vez... deixe ele vir...
Logo estaremos em nossa árvore, sem aborrecimentos, livres...

terça-feira, 8 de junho de 2010

Direção


Cigarrros, janelas, batatas fritas, sol (e ausência de sol), mato!
Risadas, sonetos, olhares, músicas (e ausência de música), fato!
Avião, Coca-Cola, árvores, afeto (e ausência de afeto). Num olhar, num gesto... há conversas (nas entrelinhas) sobre veto! Quão valioso é o sim? Antídoto do não...Seus olhos, sua boca, seus negros cabelos... me deixam assim... demasiadamente no chão! 
É claro, apertado, verdadeiro, é de "ressaca", como já dizia Assis. Me atormenta, me chama, mas nega...É terno, acolhedor, hipinotizante, o mais exótico que já quis. Um pé descalço, um após o outro na manhã fria de domingo. Eles andam com metodismo, como em qualquer outra manhã de outono. Confuso e sem direção. Mas qual o sentido de ter direção? Talvez percorrer todos os caminhos pré marcados, subtraindo as surpresas, os improvisos. Mas qual é mesmo o sentido de ter direção? 

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O brilho eterno de uma mente sem lembranças

Foto: Filme Brilho eterno de uma mente sem lembrança
"(...) - Não sou um conceito, sou só uma garota ferrada procurando por paz de espírito. Não sou perfeita.
- Não vejo nada que não goste em você.
- Mas verá.
- Agora eu não vejo.
- Você vai achar coisas. E eu vou ficar entediada e me sentir presa, pois é isso que acontece comigo.
- Tudo bem.(...)"


Comecei a redigir essas linhas depois que, de alguma forma, eu consegui observar o quanto uma mesma pessoa vivia me chamando de chato. Talvez ela tenha razão, talvez não... talvez ela só não tenha entendido minha preferência em enxergar e me manter a sós com meus pensamentos -principalmente os são cinzas e nublados.

  • 1) Não seja o "super sincero". Não diga com franqueza o que pensa, pelo menos não em algumas ocasiões.
  • 2) Sorria mais. A falta do sorriso definitivamente é sinônimo de chatice. Torne-se um chato ao não sorrir! Porém é conviniente lembrar que o sorriso demasiado poderá ser visto como insegurança, ou seja, encorpore o George Clooney não o Jim Carrey.
  • 3) Fale pelos cotovelos. Introverter-se não é o caminho. Fale da mãe, do pai, da avó, do filme em cartaz, livros, músicas, comente a internet útil -as notícias-, lembre-se da internet inútil (redes sociais e afins), cinema, gastronomia, shows, futebol. Coerência é fundamental.
  • 4) Aceite os convites. Mesmo após horas de stress no trabalho é conveniente a integração e manutenção do bem estar social. Leve em consideração o ítem 3.
  • 5) Esqueça a timidez. Nem que seja preciso algumas Stella Artois, converse, se integre. Pensar para falar pode dar a impressão de que você está arquitetando respostas. Não demore tanto, arquitetar uma resposta à la World trade center é perigoso e você poderá desmoronar (sem a necessidade de terroristas) nas suas próximas contradições, ou do tipo Millennium Bridge em Londres que te deixará complexo demais. Na verdade a espera é de uma resposta simples e direta.
  • 6) Gaste dinheiro. Não adianta... impossível impressionar sem ele. Para deixar seu carro limpo, para a conta na fila do mercado, para os presentes, desde os mais simples aos mais complexos. É um mal necessário. Trabalhe dobrado, se vire de alguma maneira, mas tenha-o em abundância, é melhor do que não ter.
  • 7) O primeiro (re)encontro é inevitável. Ou você faz tudo certo e sai como um cara bacana, gente boa, legal e engraçado... ou você vai querer desviar o olhar num próximo encontro. Todas as regras acimas deverão ser obedecidas e manere na Stella artois, ou você correrá o risco de ser um completo idiota.

Se depois de todas essas manobras você ainda ouvir injúrias, submeta-se a um tratamento que retire de sua memória os mals momentos vividos.