sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Te valorizo


Vem, me faz um carinho, me toque mansinho,
Me conta um segredo, me enche de beijo
Depois vai descansar, outra forma não há
Como eu te valorizo, eu te espero acordar
...
Vem, te faço um carinho, eu te toco mansinho,
Te conto um segredo, te encho de beijo
Depois vou descansar, não vou te acompanhar
Espero que entenda

Porque quando eu te toco, me sinto mais homem


Chorei, me esgotei em nostalgia, tentei (em vão) assimilar o mundo sem você. Senti nós apertados na garganta, senti náuseas, vontade de dormir para me esquecer, esquecer de nós.
A primeira semana sem teus olhos não foi fácil, queimei calorias na academia na intenção de absorver endorfina, aquela que você me liberava com sua voz, sorriso, toques e gestos.
As lembranças rasgavam meu peito, sem dó, não pergunte como sobrevivi na sua ausência, acho que vegetei com sorrisos falsos, com gargalhadas escudas, escondendo toda minha insatisfação.
Depois de duas semanas eu quase nem podia acreditar que você voltaria, que teria novamente seu abraços.
Sai de casa na tarde ensolarada de sexta, abasteci o carro e comprei um isotônico. Pela estrada ouvi Tiê, rodei 100 km até o aeroporto e te esperei como um menino que espera o presente de natal
Cheguei com uma hora de antecedência, para mim a possibilidade de não te ver não existia, então eu fiz tudo como manda o figurino. Quando olhei no painel eletrônico do aeroporto e vi que estava ali, a poucos metros, meu coração apertou. É dessa sensação que sinto falta. Sinto falta de como eu me sinto ao seu lado, sinto falta de como você me faz bem. Será que é amor? Não conheço outro nome, existe mesmo outro?
Eu olhava as pessoas esperando familiares e amigos. Eu também estava ali te esperando, querendo só a sua presença, a sua voz, o seu abraço. Era um misto de alegria e desejo, sensação de alívio, era o fim da tortura, o fim da ausência.
Mandei um torpedo:
-Já te vi.
-Com esse cabelo que estou hoje, não tem como não me ver. Tô esperando a mala.
Contei os minutos que pareceram eternidade. 
Como posso descrever o momento que apareceu.... era meu sonho, meu presente de Nata, Papai do céu me entregava você naquela noite. Nos cumprimentamos com um abraço apertado, meu coração acelerou. Na ausência da coragem de te dizer que o que eu mais desejava era você por perto, sugeri levar sua mala.
Caminhamos até o carro, abri o porta malas e acomodei parte do meu sonho. Estávamos então voltando para São Paulo. Toquei suas coxas, fiz cafuné na nuca. Quando ia me tocar, não sei se por falta de costume, me apertava duas vezes e voltava as mãos para seu colo.
No caminho, perguntei sobre seu gosto musical. Abriu o porta luvas para escolher entre meus CD's aquele que te agradava. Escolheu Pato Fu. Não sabia que eu lhe entregava meu coração, da mesma forma que me entregou as chaves da sua casa enquanto me recebia. Além do coração, eu também lhe entregava as chaves. Entregava as minhas chaves, as chaves do meu cotidiano, as chaves do meu mundo.
Depois de alguns kilometros eu queria te ter pra mim, sem roupas, queria colocar meu corpo sobre o seu, sentir sua temperatura, ouvir sua voz rouca pedindo para eu não parar.
Abri o zíper da calça.
-Guri, não faz assim. Era sim agregado ao não.
Abriu o zíper da minha bermuda e abaixou a minha cueca. Eu dirigindo a 100 km/h olhava os caminhões e carros ao nosso redor, olhava suas mãos me masturbando. Fiz o mesmo. Ensinei como eu gostava e aprendeu rapidinho.
Eu me contorcia de paixão, de tesão e quando estava próximo de explodir em desejo eu pedia para parar.
Parei com o carro na garagem do motel e subimos as escadas.

Sobre finais e recomeços


-Tudo bom?
-Tudo.
-Tô indo te ver, já saí de casa. (happy)
-Guri! Eu não disse que ligava pra ti? Meus pais estão vindo pra cá, acho que não vamos nos ver hoje.
-Nem mais tarde?
-Eu não sei até que horas eles vão ficar aqui.
-Tudo bem (sad), eu faço o retorno e volto pra casa. 
... (ausente de si mesmo) é... Eu só queria te dizer que foi muito bom ter te conhecido, que você superou todas as minhas expectativas. Adorei tudo.
-Que bom!
-Então é isso, até um dia!
-Bah, como tu e dramático guri.
-Você mora a 600 km de distância e quer que eu diga até semana que vem? Você sabe que não é assim. Bom é isso, até um dia. (very sad)
-Até.

...
...
...

-Sou eu novamente, pode falar agora?
-Posso falar.
-É que eu quero saber o que você pensa, o que você sente. Quero que me diga se foi bom ou não. Fiquei alguns dias na sua casa, depois você veio pra minha cidade e ficamos novamente. Preciso saber o que sente, fala alguma coisa. (sad)
-Guri eu sou assim. (happy)
-Tá, mas diz algo, me diz se gostou ou então fala que foi uma porcaria, que não gostou e que sou um chato, um saco. Mas fala algo.
-Mas tu é chato heim, eu já te disse isso (happy). Guri, tu tá me cobrando as coisas, não somos namorados.
-Eu sei que não somos namorados, não estou cobrando, só preciso saber o que pensa. Queria ouvir planos, queria que dissesse que eu iria na sua cidade novamente, ou que viria para a minha. (sad)
-No final de janeiro eu tô em São Paulo novamente. 
-Eu sou assim, eu não fico falando nada. Eu não estava contigo todos esses dias aqui em São Paulo? Tu não foi me buscar no aeroporto na sexta e eu não fiquei contigo? Não saímos ontem? Tu acha o que guri?
...
...

 Tu acha o que?
-Acho que gosta. (happy)
-Tem coisas que não precisam ser ditas guri.
-Poxa, eu gostei de você, só queria que entendesse isso e precisava ouvir isso de você também. (very happy)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Final


Quem garante que vou esquecer de você, esquecer nossa última noite (clique aqui)?
Seguir a diante não foi fácil. O acúmulo de prédios, o céu cinza, o trânsito frenético... eu me sentia estranho, me sentia fora dali, o asfalto sob meus pés, essa era a única certeza que eu tinha sobre ter realmente voltado, pois meus pensamentos estavam em seus olhos claros, sorrisos, voz e gestos.
Jaz. Ganhei ou perdi? Eu não conseguia analisar o saldo final de tudo isso.
O que estará fazendo agora? Com quem estará? Sorriria e eu não estaria ao lado, não compartilharia do seu momento. 
Como aceitar que eu precisava voltar pra minha cidade? Com os óculos escuros eu podia chorar sem atrair olhares estranhos, sem atrair olhares curiosos ou de pena... me escondi atrás das lentes escuras e deixei escapar pelos meus olhos todos os sentimentos, todas as alegrias, todas as dúvidas de um futuro incerto, senti na boca o gosto salgado da saudade, o gosto da ausência, do 'até um dia'. 

Eu não tinha pressa nenhuma de chegar em casa, queria ficar sozinho, pensar um pouco sobre os contratempos do meu mundo cotiano. Olhei casais felizes de mãos dadas, pessoas sorrindo ao celular, provavelmente indo ao encontro da tal felicidade. 
Subi a rua Augusta tão devagar e cansado, eu tinha preguiça de recomeçar sozinho. Pela minha memória suas mãos me procuravam, seus olhos me olhavam, sua boca contava metodicamente fatos tão seus que se tornaram tão meus. Lembrei das inúmeras ligações, dos inúmeros cuidados, promessas e sacanagens.

O presépio de Natal da avenida Paulista foi ofuscado pela minha melancolia, não tinha espaço em meus pensamentos para outra coisa.
Se eu seguir adiante consigo viver, me ver, me achar, mesmo sem você?

FIM

Universo Paralelo

Universo Paralelo segundo Rafael Linhares

Sabe aqueles textos descomprometidos que começamos a ler por acaso e a leitura interessa porque remete a alguma coisa que já vivemos?

O peso do 'até um dia' - Parte 7

"Um carinho envolve o meu coração, sinto que é você falando pra mim,
 sussurrando quente entre os dentes letras tão gentis." Tiê

Acordar do seu lado mais uma vez, me fez bem humorado pela manhã. Eu sabia que alguma coisa estava errada, o trem talvez estivesse fora dos trilhos. Somente algo muito bom para me manter bem humorado pela manhã. Sabia que doses repetidas de você me entregavam doses cavalares de endorfina.
Levantamos rápido da cama, o dia estava ensolarado, contrariando a previsão do tempo. Tomamos banho, tomamos um rápido café da manhã e saímos para a vida. Atravessamos a balsa, tiramos fotos com o transatlântico ao fundo, tiramos fotos com o porto ao fundo. Pegamos dois ônibus e chegamos ao... bom, acho que vou chamar de paraíso. Talvez pelo complexo: Você + A dose de felicidade que me entregava + A sensação de liberdade e paixão que eu sentia + O local em si.
Seus olhos cada vez mais claro no dia ensolarado me hipnotizavam, tanta beleza em um só olhar. A pele branca em contraste com seus cabelos negros e sua cara de tudo-bem-sou-seu-vem-aqui-sem-medo me deixava em transe.

(...)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Medo

Abra o guarda chuva porque hoje o amor desistiu de sair.
É a última vez que meu coração vai dizer 'até um dia'.

Acho que foi medo de mim...
Queria ter  forças para pegar as mais belas palavras e te dizer o quão importante você foi pra mim.
Queria colocar todos os meus sentimentos dentro da sua cabeça, traduzidos, em braile, legendados ou da melhor forma para você assimilar. Não seria suficiente.
Queria te pegar, te beijar, te morder, afagar seus cabelos, passar minhas mão pelo seu corpo. Queria só te olhar,  talvez isso bastasse... é tanto querer. Por que existe o tempo, não quero que vá, fica vai?

"Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?" *

As palavras somem, não sei o pensar, nem como agir. Sinto um vazio enorme, uma coisa que brota dentro do meu peito e cresce a cada segundo, algo que nunca senti.
Os olhos tristes e desbotados, o coração doente, contaminado pelo tal do amor, pensamentos que eu não entendo.
Passo o cortador de grama por todo o jardim: arranco as rosas vermelhas, os trevos de quatro folhas, as ervas daninhas, arranco as lembranças, podo os afetos e pulverizo com o veneno mais poderoso nossos momentos, guardados dentro de mim. Sentimentos me fazem mal, me sufocam. Não quero mais sentir isso.
Tóxico, encaro-me no espelho, não por muito tempo. Tenho medo desse "eu", tenho orgulho e medo ao mesmo tempo. Tão estranho, entende? Eu não.
Amargo, me tranco no quarto, sem brilho, triste, jogado na cama e na tristeza.

"Vai ser difícil sem você, porque você está comigo o tempo todo e quando vejo o mar existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem" *

Não entendo como sou tão fácil, nem como as pessoas entram e se afundam no meu peito com tanta rapidez, e facilidade. Não entendo como elas não se contaminam com o bem, com o bom que há dentro dele e saem... assim, com uma indiferença que me assusta.
Acho até que estou ficando chato e previsível, talvez seja isso.
Por ora me limito a não plantar tudo novamente, não quero as bem fadadas borboletas passeando por aqui, nem os sorrisos.
Quero ficar comigo, quero viver a sua ausência, quero sentir todas as dores do seu 'até um dia', quero conhecer as piores sensações do término de nós... quero que sejas bem feliz, de verdade, e que quando me olhar -depois desse período que eu nem sei  o quanto vai durar- com o meu sorriso voltado para outros olhos, se arrependa e entenda. Se arrependa de ter feito, ou melhor, de não ter feito. E entenda, entenda e  sinta muita vergonha por ter feito eu pegar os sentimentos nobres que sinto por ti, e um a um, jogá-los ao vento.

"Dos nossos planos é que tenho mais saudade" *

* Renato Russo

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Sobre prefácios e finais

Lá, esqueço-me no teu gosto, perco-me no teu cheiro. Entregastes as chaves, bobo, achei que fosses amor meu.
A utopia do azul, falso sorriso de porcelana, mar de ressaca, quero não.
Warner, HBO e Sony, tudo pretexto, deitar do seu lado, ter-te nas mãos.
Ri, desejei, quis, não me assustei ao me sentir feliz. Esperastes isso? Logo eu.

E antes d'eu mostrar meu mundo pra você. Deixo tu entrar pela janela do quarto. Sou teu.
Nem que eu me vire do avesso, me arda em desejo, quero, mesmo em tropeços, não será em vão.
Colei prefácios e finais na parede. Mas ei de te contar meu segredo: colaremos volumes II, III e IV no chão.
Eu, Romeu enjaulado, acorrentado pelos pés em Alcatraz, você, minha linda Julieta, diz mais uma vez que sou seu.

O peso do 'até um dia' - Parte 6

"Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito. E que a solidão é pretensão de 
quem fica escondido fazendo fita. " - Cazuza

Meu encontro com a (feli)cidade foi lindo, o estilo arquitetônico com peças de madeiras inclinadas, tijolos maciços e aparentes na cor natural em contraste com a estrutura -também de madeira- e para finalizar, como cerejas em bolos floresta negra, os telhados coloniais. Além do estilo alemão, a cidade também herdou o estilo trazido pelos portugueses e pelos italianos, deixando tudo com um aspecto muito bonito e super agradável para passeios. E assim fizemos.
Passamos pelo teatro da cidade, pela catedral, pelas ruas estreitas e charmosas, caminhamos beirando o rio -tão belo e tão assustador para os que moram nas proximidades- e fomos para o Shopping almoçar.
A decoração de natal prendeu nossa atenção. Um guri lindo de uns cinco anos olhava tão extasiado para o papai noel, para as renas de narizes vermelhos e gorros, estava com um sorrisão de orelha a orelha. Registrei o momento.

Almoçamos no shopping, meus 'olhos azuis' preferiu sushi, já eu devorei um prato de penne a parisiense e para completar, um bife de picanha e refrigerante. Foi um contraste só! Conversamos sobre a vida, sobre o vai e vem de (des)amores, sobre o tempo, sobre nós. Fez compras enquanto eu comprava meias (isso mesmo, esqueci de pô-las na mala) em uma loja de esporte. Eu olhava para dez pessoas, oito eram de olhos azuis. As outras duas, os olhos verdes. Cidade incrível e cheia de gente bonita e elegante.
Tomei sorvete e me lembrei da necessidade que tinha de tomar uma dose de você. 
Chegamos em casa (naquele final de semana, a casa era nossa) a noite, cansados, o dia foi ótimo e cansativo e fomos direto pro banho. Ligou o chuveiro e me chamou. O desejo agora dava lugar ao carinho, abracei por trás e repousei meu queixo em seu ombro. As minhas mãos? Ah, essas vocês já conhecem, percorreram tudo, ora com sabonete outrora com shampoo e também sem nada, causando o atrito que me arrepiava inteiro.
Pedimos pizza, meia eu, meia você. Bebeu Coca Cola pra acompanhar. Fui de Stella Artois. 

Mais tarde, na cama, programou a TV para desligar sozinha. Seu corpo, no piloto automático, em sincronia com o meu. Estava só de calção e me pedia pra si. Me pedia por inteiro. Arranquei o calção, como um adolescente faz quando vai transar, com pressa e urgência. Foi ótimo sentir sua temperatura, seu cheiro de limpo e depois, como diz Cazuza em uma de  suas canções: "Me dê de presente teu bis. Pro dia nascer feliz"!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Parte 5

"Saudade a gente tem é dos pedaços de nós que ficam pelo caminho." - Martha Medeiros
Te olho...
Te olho dormir pela madrugado, quase imóvel, como um anjo. Ensaio um beijo no ombro ou um carinho nos cabelos. E se eu te acordar? Melhor observar quieto, no meu canto, do meu lado da cama. Ah, mas estamos descobertos, e estou com frio. Por aí na sua cidade faz um frio de madrugada, que o paulista aqui, não entende como o ventilador ainda continua ligado. Me aproximo mais um pouco das costas, nos cubro com o lençol até o pescoço. Por mais que seja dezembro, mesmo assim sento frio na sua cidade. Entrelaço minhas pernas nas suas e gosto quando você ajeita as suas para eu encaixar as minhas.
Quero ficar perto, quero o cafona 'dormir de conchinha'... mas eu preciso de ar para dormir, e depois de algumas tentativas frustradas eu resolvo sair de cima da sua nuca e respirar ar de verdade me afastando um pouco, deixando somente minhas pernas em contato com as suas e minhas mãos exploradoras, tateando seu corpo, mais tarde nem isso... me desculpe, mas preciso me virar e dormir, esse momento é só meu, então, deito do meu lado da cama, solto, livre e só.
Te olho acordar com cara de criança, fazendo biquinho e com os olhos pequenos, ouço você e o chuveiro no banheiro e apareço de surpresa. Vejo pelo seu sorriso discreto que fiz a coisa certa. Me ensina metodicamente como deixar o sabonete na saboneteira:
-Bota assim guri (e me explica colocando-o de forma inclinada, deixando livre o furo da saboneteira para escoar a água).
-Senão ele vira aquela pasta, fica todo mole... certo.
-Isso mesmo guri, tu aprende rápido as coisas.
Enquanto nos secávamos, ligou o secador e secou seu corpo e o cabelo. Eu nunca tinha visto alguém, após se secar com a toalha, ligar o secador para finalizar a secagem. Achei meio burguesa a atitude, mas sorri.
Te olho se trocando, vestindo sua bermuda xadrez, seu tênis preto e sua camiseta rosa, aquela que eu te disse que adoro, aquela que está vestido na foto que eu mais gosto e disse pra ti sem vergonha alguma. Acho que escolhê-la foi proposital, para me deixar ainda mais louco de desejo e vontade de te agarrar, te segurar pelos braços e te despir.
Te olho passando protetor solar fator cinquenta  e spray de fixação no cabelo.

Te admiro...
Te admiro pelas suas boas intenções e confiança. Obrigado por ter confiado em nós. Te admiro pelos sorrisos verdadeiros que me causaram tantas vezes, indescritíveis sensações de bem estar e poder: Bem estar por estar ao seu lado, por ter realizado esse meu antigo sonho, sempre guardado, nunca esquecido; Poder porque eu tenho a certeza que todos olham para você na rua, na academia, no shopping, na praia... mas quem te tem nos braços a noite ou a qualquer hora do dia, sou eu.
Te admiro por abrir as suas portas para mim. Por fazer com que eu me sinta em minha própria casa. Te admiro pela sua dedicação com a sua família -ouvir você tratando sua mãe bem pelo telefone, conversando com a sua irmã, tão prestativo e educado, assim fica impossível não te admirar.
Tomei rápido o meu iogurte e saímos. Disse pra mim que não conseguia se alimentar de manhã, então comeria algo durante a manhã, talvez depois de meia hora.
Caminhamos durante meia hora, atravessamos o rio com a balsa da cidade, admirei o porto com centenas de containers. Comeu um salgado e um suco de laranja, tomei um refrigerante. O ônibus demorou uma hora até a cidade escolhida.

(...)
Antes disso: O peso do 'até um dia' - Parte 1O peso do 'até um dia' - Parte 2O peso do 'até um dia' - Parte 3O peso do 'até um dia' - Parte 4
Depois disso: O peso do 'até um dia' - Parte 6, O peso do 'até um dia' - Parte 7, O peso do 'até um dia' - Final

sábado, 17 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Parte 4


"E aí? quais são seus planos? Eu até que tenho vários. Se me acompanhar, no caminho eu posso te contar." -Tiê

Acordei por volta do meio dia, olhei para a janela e a garoa que fez lembrar de São Paulo. O sono era pouco e o sonho era bom, então tratei de levantar e viver.
O telefone tocou e eu apenas observei, no final o recado na secretária eletrônica:
-Oi, sou eu, quando aparecer esse número pode atender guri. Fica a vontade, tem torrada em cima da mesa, requeijão, geléia e manteiga na geladeira. Se quiser almoçar, pega alguma coisa no congelador e faz, sinta-se em casa.
Sentei próximo a mesa e peguei algumas torradas, abri a geladeira e peguei a manteiga, o suco de manga completava o meu almoço. Também comi alguns chocolates deixado em cima da mesa e depois voltei para o quarto.
Durante a tarde eu ensaiei assistir alguns filmes, não terminei nenhum, torcia ansiosamente para o relógio marcar 17:15 -horário que provavelmente chegaria ao fim a espera pela sua presença, colocaria fim a ausência, ao silêncio.
Nunca fui de ficar o dia inteiro sem conversar, mudo, comigo mesmo. Peguei o celular e liguei para casa, disse que estava bem e quando me questionaram se eu estava na praia, eu respondi dizendo que o tempo estava fechado e que o passatempo da tarde era a TV.
Resolvi ir ao mercado, queria preparar alguma coisa para nós, mas o relógio já marcava dezesseis horas, então eu precisava ser rápido. Comprei lasanha congelada, um vinho tinto e wafer amandita para a sobremesa, nada sofisticado, mas o jantar só serviria de início para a noite mágica.

Quando chegou foi logo abrindo um sorriso. Perguntei como foi o seu dia, me respondeu dizendo que o foi corrido, com muita coisa para fazer, mas que enfim chegara o fim de semana.
Enquanto foi para o quarto eu fiquei na cozinha preparando (tirar da caixa de papelão e colocar no microondas) a lasanha. Por distração, esqueci de retirar a película de plástico. Rimos do ocorrido. O vinho ficou para segundo planos, jantamos e fomos para o quarto.
Como dois estranhos, cada um estava na sua e mesmo assim eu queria te contar que era a noite mais especial de dezembro.
-E aí quais são seus planos?
-Você.
Houve um beijo, desses apressados, desses que as mãos percorrem o corpo, tateando as coxas, virilhas e pernas. A pressa foi tanta que logo estávamos na cama. Pedia por mim em você, sem cerimônias, com as janelas e pernas abertas. Suas mãos me traziam para mais perto naquela dança e nossos corpos suados se misturavam pelos lençóis.
De repente não existia nada além de nós.

Depois de alguns minutos fomos para o banho. Me encostei, peguei pela cintura, puxei pra mim, eu brincava com o sabonete e limpava suas costas, passava pelos ombros e cintura, limpava seu íntimo tão molhado do meu. Beijava suas costas sardentas, lambia a pele antes salgada, agora simplesmente com gosto de você, com gosto de amora, com gosto de amor.
  • Possível primeira pergunta séria, guardada no peito:
"Queria te perguntar se você tem aí contigo alguma coisa pra me dar, se tem espaço de sobra no seu coração. Quer levar minha bagagem ou não?" *
Quando saímos do banho combinamos quais as cidades que conheceríamos no sábado e no domingo. Deitamos exaustos na cama, eu não resisti por muito tempo, tentei ficar na minha e de repente eu estava colado novamente as suas costas brancas.
A TV apenas aluminava o ambiente, estávamos longes novamente. Eu acariciava sua pernas, sua bunda, era carinho fantasiado de sexo, estava querendo sexo fantasiado de carinho. Um amigo uma vez me disse que eu sabia transformar lindamente sexo em poesia e me questionou se eu saberia fazer o inverso. Foi feito ali! O atrito da pele, se mexia me pedindo pra si, entregue a amar, quente. Foi sexo com desejo, com tesão, com  ausência de amor, diferente da primeira vez. Ao me abraçar me apaixonava ainda mais, ao pedir por mim quase gozava, molhado de suor, de vontade, molhado dos seus doces fluídos.
  •  Possível primeira resposta séria, também guardada no peito por ausência da possível primeira pergunta:
"Queria te contar que eu talvez tenha aqui comigo, eu tenho alguma coisa pra te dar.
Tem espaço de sobra no meu coração.
Eu vou levar sua bagagem e o que mais estiver à mão." *
(...)

*Trechos da música "Dois" - Tiê. Clique e ouça. 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Parte 3

A mistura das almas quando embarcamos para amar o desconhecido, é algo que me encanta.

Na noite que antecedeu a viagem eu dormi pouco, a ansiedade sempre foi um dos meus pontos francos. Imaginei situações, lugares, gestos, sorrisos... imaginei como me portaria diante a vários acontecimentos: Situação A me levaria a fazer tal coisa, situação B me levaria a fazer outra coisa e acreditem, existia a situação C, D, E e F, todas com pelo menos, umas três alternativas de rota.
Acordei bem cedo, o vôo estava marcado para seis e trinta da manhã. Na mochila pouca coisa: um jeans, algumas bermudas e camisetas, perfume e apetrechos de higiene pessoal e muita coragem para visitar um desconhecido.

Quando entrei no avião, o friozinho na barriga não era pela decolagem ou pouso, havia mais. Era um misto de ansiedade, sonho quase realizado, felicidade pela coragem, concretização de um projeto que contei para muitos amigos, mas que parte deles não acreditavam. Foi tudo muito rápido e as sete e trinta eu estava lá, em terras desconhecidas, em solo estranho e sem nenhum resquício de medo ou arrependimento.
Somente eu estava de férias, então na sexta feira até as cinco da tarde eu ficaria sozinho. Trabalhava no aeroporto da cidade visitada e sua casa ficava a uma caminhada de dez minutos. Sai do pequenino aeroporto para respirar o ar da nova cidade, um novo 'eu' nascia ali, problemas e familiares estavam todos em São Paulo.
Peguei o celular para avisar que já tinha chego. Enquanto chamava eu vi 'meus-olhos-azuis' na minha frente. Reconheci com facilidade, parecia tão familiar e era exatamente como eu tinha projetado. Antes de atender o celular olhou para mim  e também me reconheceu. Veio até mim.

Nos cumprimentamos com um abraço tímido e fomos para sua casa, eu ficaria lá sozinho até o final da tarde. Conversamos no caminho sobre algumas coisas que não me recordo ao certo, eu não conseguia absorver absolutamente nada da conversa, estava em êxtase e quase nem sentia os meus pés no chão enquanto caminhava. O tempo estava nublado e a cidade era muito pequena, tinha aspecto de uma cidade interiorana do meu estado.
Quando fechou a porta da sua casa eu não resisti, empurrei contra a parede -com cuidado para não machucar- e beijei sua boca. Nossas respirações estavam ofegantes. Segurei pela nuca, toquei as costas e quadril. Tirei a mochila das costas e pendurei meu casaco no cabideiro e depois voltei mais leve para seus braços. A sincronia era gostosa, as mãos sabiam qual caminho percorrer. Abri o botão do meu jeans.
Peguei como não havia experimentado ainda, tinha desejo em demasia e eu quase podia sentir o cheiro do cio. 
-Calma guri, tu tá muito rápido.
Eis uma coisa que me deixa entregue: o sotaque do sul. Existe sotaque  mais bonito? Esse pessoal fala cantando, diz 'tú' ao invés de você, diz 'contigo' ao invés de com você. Tem frases como 'te faz', 'tô de cara' ou 'bota o troço ali', falam guri ao invés de garoto, colono ao invés de caipira entre outros. O dialeto me encanta.
Sorrimos e eu precisava me desgrudar. Disse para eu ficar a vontade, que a casa era minha pelos próximos três dias, me entregou as chaves e voltou para o trabalho.

Eu estava morto de sono, mas não conseguia dormi. Liguei a TV para me distrair. 
Passeei  pelo armário, olhei e toquei sua camisetas, cheirei também. Olhei camisas, calças, olhei os perfumes... reconheci o cheiro do seu pescoço em um dos frascos, tinha todo o cuidado de deixar tudo onde exatamente estava. O que pensaria se chegasse em casa e percebesse que um estanho havia mexido em todas as suas coisas? Olhei a gaveta de meias e roupas íntimas, tudo metodicamente separado por cores e dobrados de forma harmoniosa. Em uma parte do armário, havia brinquedos antigos de sua infância, sorri mudo. Olhei a estante com uma centena de DVD's e uns cinquenta Blu-Ray, observei alguns títulos em comum com a minha coleção, olhei o porta retrato pequeno com sua foto, ainda bebê, e por último observei um trem de madeira colorido, que a cada vagão carregava uma letra, formando assim as três primeiras letras do seu nome. Bati uma foto, eu queria conhecer e registrar, estava explorando as possíveis formas.
Deitei na cama e tentei pegar no sono. Assisti por alguns minutos um seriado qualquer da Warner e adormeci.
(...)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Parte 2

"Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro." Leonardo da Vinci

Não me recordo ao certo como tudo começou, lembro que foi teclando em uma sala qualquer de bate papo. Após algumas frases, evoluímos para o messenger e posteriormente para redes sociais.
Não me aventuro muito nas madrugadas conversando com desconhecidos, mas às vezes funciona como válvula de escape, funciona para fugir do tédio.

As chances de encontrar alguém interessante? Eu diria que menos de 5%. Lembro que uma vez marquei um encontro (por favor, se forem marcar dessas aventuras, que seja em locais públicos e movimentados) e fui surpreendido por um ser que, definitivamente, não era desse planeta. Eu tinha uns vite e três anos, já a figura era um horror, meio vintage, com a idade avançada, jeans cintura alta surrado (hoje em dia o jeans cintura alta voltou e 'está em alta'-trocadilho caiu como uma luva- mas naquela época, só as sogras usavam) e acreditem, jaqueta de couro preta em pleno calor de uns trinta graus. Detalhe importante: pilotava uma moto mais surrada que o jeans e não era, absolutamente, nada do que parecia pela tela do meu computador. Claro que fingi que o meu celular tocou e que eu precisava ir embora, fiz isso depois dos quinze minutos mais demorados da minha vida. Dez minutos para ser sincero, esse foi o tempo para eu me livrar do 'presente grego' que eu havia ganho naquela tarde ensolarada de sábado.

Mas dessa vez eu sentia que era diferente, tinha encontrado alguém especial e eu estava disposto a esquecer o episódio anterior e manter uma relação a princípio de amigos.
Lembro que na época morava em São Paulo também, o que facilitaria o encontro. Lembro que conversamos muito breve pelo celular, não me recordo do porque  de não termos nos encontrados pessoalmente. Talvez na época por alguma incompatibilidade de ... bom, realmente não me lembro, mas acho que pelo fluxo natural que a vida segue. Eu na Zona Oeste e o outro lado da tela estava no extremo da cidade, na Zona Leste.
Segui minha vida, me relacionei com outras pessoas, conheci mais outras tantas no bate papo (nada que valesse a pena relatar duas linhas de texto) e a nossa amizade ficou guardada, ali no hall de amigos virtuais.
Por vez ou outra conversávamos, era raro, mas em todas as conversas a cumplicidade e a verdade, de ambas as partes, prevaleciam, era bem bacana. Passaram-se os anos, migramos de rede social, porém o contato continuava. Foram ao todo uns três anos, só para depois acontecer o encontro.

Tinha voltado para a sua cidade -em outro estado- o que teoricamente, transformava o encontro menos viável (tempo, espaço e grana).
Entre conversas que se tornaram mais frequentes no último ano, houve um convite: me chamou para conhecer sua cidade. Amadurecemos a idéia durante dois meses. Eu estava decidido a ir.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

O peso do 'até um dia' - Parte 1


"Nunca diga adeus, porque dizer adeus significa ir embora e ir embora significa esquecer." Peter Pan


A última vez que dormi com você foi a mais dolorosa dos meus vinte e poucos anos. Não por algo que fez ou disse, sempre foi tudo tão perfeito, até nas suas imperfeições eu te admiro. Nosso breve momento foi inesquecível e mágico. Doeu porque eu sabia que não dormiria com você na noite seguinte, nem te olharia acordar e correr para o banheiro só de toalha, não seguraria suas mãos pela madrugada e nem me encaixaria, sob seus lençóis, em você no friozinho da madrugada aí da sua cidade. Doeu por eu saber que não estaria com você pelos próximos dias, semanas, talvez meses ou anos.

Então, na nossa última noite, tratei logo de me encostar o mais próximo possível das suas costas, entrelacei minhas pernas morenas às tuas brancas, cheirei sua nuca, brinquei com os seus cabelos, beijei e lambi tuas costas para não esquecer seu gosto, olhei suas costas brancas sardentas, que tanto amo, como um menino que observa as estrelas. Queria te gravar nas minhas lembranças, com uma riqueza de detalhes é claro. O peso da despedida chegava até mim e desbotava meus olhos castanhos. Chorei de um modo silencioso, para não interromper seu sono e nem minha despedida.

Eu precisava voltar para minha cidade e você continuaria na sua, a 600 km de distância. É desse peso que me refiro, é dessa merda de palavra chamada distância. Não posso pegar meu carro e ir até sua casa, com lasanha, wafer amandita e vinho tinto, como fiz na sexta-feira.
Essa dor sufoca, dói o peito, paralisa a vida. Essa dor sopra baixinho no pé do ouvido do meu coração: 'É provável que se vejam mais duas ou três vezes no próximo ano." E isso me rasga o peito e me faz querer dormir (minha breve fuga da realidade).

Consigo lembrar do livro que te entreguei com a minha dedicatória boba, lembro dos seus filmes expostos na sua estante, da disposição das suas roupas penduradas nos cabides do seu armário, das suas meias e roupas íntimas na gaveta... essas lembranças não doem.
Consigo lembrar dos nossos banhos juntos, lembro de você comendo sushi e eu registrando com a câmera do celular, a pizza e cama meia-eu-meia-você, dos nossos corpos nus deitados ou de pé no quarto, do sabor das suas partes e saliva, dos seus olhos azuis e cabelos pretos, do seu lindo sorriso... essas são as lembranças que doem, que escorrem pelos olhos e  que me deixam em stand by, sem conseguir seguir sem você.

-Cheguei em São Paulo. Obrigado mais uma vez por tudo. Estava tudo ótimo.
-Chegou rápido. No horário, na real. Imagina! Que bom que gostou. Pena eu estar com essa gripe insuportável.
-Foi ótimo, relaxa. Superou todas as minhas expectativas.

...
...
...

Escrevi com tinta guache no futuro: 'Até um dia'.
(...)
Depois disso: O peso do até um dia - Parte 2, O peso do 'até um dia' - Parte 3, O peso do 'até um dia' - Parte 4, O peso do até 'até um dia' - Parte 5, O peso do 'até um dia' - Parte 6, O peso do 'até um dia' - Parte 7, O peso do 'até um dia' - Final

domingo, 4 de dezembro de 2011

Meu bem, ou será meu mal?

Quando te toco meu corpo inteiro te convida, desde os dedos dos pés aos fios de cabelos, e não adianta fingir meu bem, a recíproca é verdadeira, vejo nos seus olhos.

Ela de repente não estava mais ali. O vento irônico, que às vezes sopra para longe momentos e pessoas, também nos surpreende. Sopra por vezes, momentos e pessoas que se foram um dia, para perto de nós, assim, como um bumerangue que voa alto ou rasante, existe um momento que ele faz a curva e retorna para o ponto de partida. O vento trouxera o cheiro familiar que ele carregava, amadeirado... trouxe lembranças e sensações.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Era azul


Que sabor é esse quem vem me procurar de madrugada?
Que vontade é essa de ouvir sua voz, que me busca até nos meus sonhos?
Me faz querer você, me faz querer te ter só pra mim.
Que sabor é esse que me molha as mãos, me treme as pernas e faz meu coração acelerar? Tem gosto de mar. Tem fúria de ressaca.
Que saudade é essa que me falta a voz e me deixa bobo?
Que olhar azul é esse que me faz sonhar, me faz pensar, me deixa triste ou simplesmente com vontade de mais você? Que mãos são essas que tocam as minhas costas, que tocam minhas pernas.
Que sabor é esse do seu beijo? Quais substâncias carregam?
Que vai e vem é esse que me deixa suado, cansado, querendo que você não vá, torcendo pelo dia que você vem.
Que feitiço é esse que carrega nos olhos, que embriaga e dopa mais que bebida de pirata e ópio?
Que descuido é esse que me faz te querer pra mim? Que desejo estranho é esse de querer o sim?
Que frio na barriga é esse, és como um borboletário. Por quê?
Vem às seis, vem às sete, vem de pijama e pantufa, me convida pra dormir.
Que sincronia matutina, vespertina e noturna é essa? Nosso embalo não é só de sábado a noite.
Me fala que gosta de dormir juntos, porém separados. Me diz que me enamora e me trai com a mão, me abandona com as costas, me oferece pra terceiros.
Então me diz: Que intenção é essa (senão a de me deixar insano e torpe)? 
Me molha com seu desejo e me põe ao sol na manhã seguinte.
E então eu imploro:
-Me sopra não, eu nem sou dente de leão...

sábado, 26 de novembro de 2011

O Astronauta dos corações

"E ele num momento hesitou,
 mas depois não resistiu, 
me contou que mil balões voando foi o que ele viu.
Eu te presto atenção, tento ser sua flor, vem, 
te faço um carinho, eu te toco mansinho,
 te conto um segredo, te encho de beijo." Tiê

Acho que ele chegou até aqui naquela tarde. Na verdade tenho certeza. Veio correndo por entres vales encantados e frutas silvestres. Voou de longe até nós, percorreu galáxias e universos. Apareceu para nós brilhante e denso, aconchegante como chocolate quente no inverno, brilhantes com luzes azuis. Acertou o tom, era a nota cheia de flores e tinha uma melodia que abraçava almas. Era o Astronauta dos corações.
Te peço que fique. Passado o passado voltamos a seguir o Astronauta do coração. A gente segue a direção que o coração mandar... vamos pra lá. Um sonho bom, desses que se acorda sorrindo, desses que transformam o dia. Era azul na seda rara e rosa no algodão, era embriagado na sombra e sóbrio na luz, era lá, sol e dó, je t'aime de manhã até a noitinha ao som de jazz.

-Te vi chegar e meu coração bateu mais forte, minha mão suou.
-Soou.
-É suou!
-Soou o sino da igreja amarela, não escutou? No exato momento que cheguei.
-Suou e soou então.

O banco da praça era impecavelmente branco, com certeza os pintores tinham feito um belo trabalho no dia anterior. Ainda era possível sentir o cheiro e eles se certificaram se a tinta fresca não colaria nos casacos. Colocaram apenas o dedo indicador no banco, apertaram e depois riram. A tinta estava seca.

Duas visitas recentes do Astronauta dos corações:
  1. Ele entrou pela janela do quarto dela pela manhã, atravessou a cortina. Soprou leve pelo ouvido: "oi". Se acomodou na poltrona de balanço e a olhou dormir. Ela esboçou um sorriso e apertou os olhos. Quase acordou. Ele foi na pontinha dos pés até o piano, passeou os dedos pela calda até chegar ao teclado. O Astronauta dos corações tinha bom gosto e adorava conhecer novos casais. 
  2. Enquanto ele se cobria com o cobertor xadrez vermelho, quase o ouviu. Se mexia muito durante a noite e sempre estava descoberto e tremendo de frio pela manhã. O Astronauta verificou se ele estava dormindo e sorriu no canto do quarto. Deixou um punhado de alegria perto do abajur, cor sorvete de creme. Olhou todos os carrinhos enfileirados na estante e lembrou-se da sua infância... antes de virar o astronauta dos corações -ou se você preferir: o amor- ele era bem pequenininho apenas um sonho, um carinho. Cabia nas palmas das mãos ou num ninho de andorinha. 
-O que é isso que você trouxe?
-Chocolate quente com marshmallow, para te proteger do inverno.
-Me protege também com um abraço?

Faltaram palavras ao rapaz, ele se viu ao meio de carinhos e beijos, e de todo o seu desejo de apenas ter um grande amor. Ela estava ali, diante dos olhos. Faltou ar. Tinha asas para voar... ganhou um presente do Astronauta.

Preste atenção leitor:
  • Faça um carinho, conte um segredo, valorize uma música, sonhe, aventure-se, sensibilize-se com o mais singelo gesto, beije, entenda, chore lágrimas de amor ou de dor, deseje e aproveite o presente!
  • Enxergue os sinais do Astronauta, não desista, chame-o (a) de amor, segure-o (a) pelas mãos, lhe entregue flores ou livros, lhe entregue o coração.
Me chamam de Astronauta porque sempre estou fora de órbita. Sempre viajando pelos corações, dos mais fáceis aos mais rudes. Não me despeço dessa estória, estarei sempre com eles.
"Eu canto todas as manhãs desde que te conheci."  Inquietos

terça-feira, 22 de novembro de 2011

O que será que será?

Circundou-se de belas tulipas vermelhas, passou batom nude e rímel preto. Despiu-se de medos e vestiu-se de decisão. Olhou para os ponteiros: marcavam 23:30. Combinou tangerina e jasmim, sândalo e âmbar pelo pescoço, nuca e pulsos.
Sorriu ao espelho, sabia que estava linda e que encantaria (fácil) do mais belo poeta ao mais sacana boêmio. Soltou os cabelos negros, desmanchou a trança detalhada, queria parecer menos metódica. Do quarto olhou pela janela, a lua brilhava, imensa e clara, linda e cheia.
Calçou salto alto preto enquanto sorria ao som de Chico. Acendeu incenso de orquídea pela sala e pelo quarto. Correu de incertezas, deixou trancado medos. Pegou o celular em cima da penteadeira.
Sabia que estava fazendo a coisa certa. Quando nos sentimos bem e felizes, indica que estamos no caminho certo, que estamos ultrapassando paradigmas, desafiando o óbvio, encarando os fatos. Preferiu transcender o seu jeito de sempre fazer, de sempre sentir.

-Alô?
-Olá, moça dos olhos inquietos.
Ela sorriu em silêncio do outro lado da linha.
-Olá, moço das mãos inquietas. Está aonde?
-Saindo da aula.
-Hum... eu passo aí e te pego. Me espera?

...
...
...

-Espero.

Jogou o porta níquel de oncinha dentro da bolsa, desceu as escadas, abriu o portão de madeira e saiu em direção ao carro estacionado. Ao entrar, olhou-se no retrovisor e observou sua expressão de felicidade. Deu partida no carro.
(...)

Antes disso: Trevo de 3 folhas (I)


sábado, 19 de novembro de 2011

Palavras guardadas

"As coisas mais importantes são as mais difíceis de se expressar. São as coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem. As palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas te olharão de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse, e nem entenderão porque eram tão importantes que você quase chorou enquanto estava falando. Mas na minha opinião, o pior é quando o segredo fica trancado lá dentro, não por falta de um narrador, mas por falta de alguém que o compreenda."  
Stephen King
A primavera foi passando quase sem ser notada, como costumava acontecer com ele e com a pacata cidade. O despertar prematuro continuou e, quando as cores do verão começaram a esbrasear as árvores ao longo da avenida principal, ele estava abrindo os olhos por volta das cinco e trinta da manhã.
Colocava suas calças de moletom branca, por vez ou outra escolhia uma camiseta azul ou verde, mas na maioria das vezes era branca também. O tênis de corrida já ficava separado desde a noite anterior. Asim ele perdia no máximo dez minutos até chegar a cozinha para comer sua maçã e sair para a caminhada. Levava apenas uma ou duas barrinhas de cereais no bolso e um squeeze de alumínio com água.

Naquele dia, caminhou mais longe pela avenida principal do que de costume, possivelmente porque as nuvens de tempestade tinham escondido o sol e começara a soprar uma brisa fresca, ainda que inconstante. Ele mergulhava em uma espécie de transe, sem pensar em nada, sem olhar para nada exceto as pontas empoeiradas dos seus tênis. Talvez fosse o som alto, sempre que corria ouvia algum rock and roll (a banda escolhida para aquela semana foi a Interpol) e era quase teletransportado. Foi só com o avião em direção ao aeroporto que ele retornou ao presente, o silvo aterrador de suas turbinas foi mais alto que o rock e o trouxe para o mundo. Observou o avião, ainda alto, cruzar a praça inteira em uma curva de 90°, observou-o baixar em direção a pista do aeroporto.
Sempre descansava naquela praça. O local era mais alto do que toda a cidade, era rota do aeroporto e os aviões passavam baixos por lá. Havia uma energia incrível ali: centenas de arranhas céus pequenininhos ao horizonte, o pôr do sol incomparável, os casais que por ali passarinhavam, os adolescentes com seus skates, madames com seus poodles brancos recém saídos do Pet Shop e casais fotografando a vida. Tudo isso o transportava do mundo agitado e cheio de cobranças, tudo isso lhe trazia uma tranquilidade indescritível. 

Por vezes, ela estava  lá também, lendo seus livros. Ele se esforçara para ver o título, tinha curiosidade sobre seu gosto literário, passava algumas vezes por ela na esperança de ouvi-la (nunca aconteceu e ele só entendeu meses depois). Lembrou-se de uma vez vê-la ler Stephen King. Foi a primeira afinidade.
A noite, ficava uma, às vezes duas horas pensando nela, deitado na cama, enquanto o sono teimava em não vir. Imaginava diálogos e sorrisos envoltos a livros e lençóis. 
(...)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Trevo de 3 folhas

Clique e misture-se a banda mais bonita da cidade.

Ao fechar a porta, não fez cerimônias e nem se importou com boas condutas, tudo isso ficou lá fora. Sentou na cama e soltou os cabelos, desprendeu os cachos em um ritmo que o deixou entorpecido e visivelmente excitado (ela percebeu pelo volume na calça -o botão da calça parecia querer explodir- algo ali de dentro estava preste a entrar em erupção).
Ele se aproximou, com cara de safado e desejo, branco e com os cabelos bagunçados. Segurou-a pela nuca e beijou-lhe a boca de uma maneira que ela não havia experimentado ainda.
Se certificou das janelas estarem devidamente fechadas e com as persianas ocultando os enlaces. 
Desabotoou os botões da camisa dele, um por um, e adorou o que viu. O abdômem era duro como uma pedra, ela conferiu com as mãos e depois subiu até o tórax. Lambeu para provar. Enfiou, sem pudor, as mãos por dentro da cueca listrada e não se poupou de fantasiar, não se poupou de praticar seus desejos mais ardentes guardados a 7 chaves.
Ele olhava o que a moça fazia, era notório o seu prazer. Sorria com cara de sacana, quase implorando para ela não tirar nenhum milímetro da boca.
Tirou a roupa e o esperou na cama com as pernas cruzadas.
Ele não poupou esforços, se portou como ela esperava. Um verdadeiro gentleman, com oscilações em canalhices e performances de astro pornô. Houve pornografias sussurradas e mordidas ao pé do ouvido.
Doces deletérios escorreram por seios e boca, aos corpos quentes, suados e em delírios.
A bailarina cansou de dançar, estava exausta. As sapatilhas estavam jogadas num canto qualquer do palco. Correu para o banheiro, lavou dentre outras partes o rosto, estava com pressa e satisfeita.
Enquanto se vestia, avulsa, o olhava vestir a cueca (dessa vez uma branca). Antes do próximo gesto, que seria vestir a camiseta e a bermuda,  o puxou para perto de si. Se misturou ao frontal do moço. Pegou-lhe com as unhas pela cueca, apertou-lhe a bunda com as mãos, depois cheirou e beijou seu membro, antes  de misturá-lo a duas notas azuis dobradas,  tiradas do porta níquel de oncinha. Retornou até o espelho, se olhou pela última vez, passou por ele com um salto alto vermelho que a deixava linda, arrumou os cabelos com os dedos e despediu-se.
(...)

Depois disso: O que será que será?! (II)