Circundou-se de belas tulipas vermelhas, passou batom nude e rímel preto. Despiu-se de medos e vestiu-se de decisão. Olhou para os ponteiros: marcavam 23:30. Combinou tangerina e jasmim, sândalo e âmbar pelo pescoço, nuca e pulsos.
Sorriu ao espelho, sabia que estava linda e que encantaria (fácil) do mais belo poeta ao mais sacana boêmio. Soltou os cabelos negros, desmanchou a trança detalhada, queria parecer menos metódica. Do quarto olhou pela janela, a lua brilhava, imensa e clara, linda e cheia.
Calçou salto alto preto enquanto sorria ao som de Chico. Acendeu incenso de orquídea pela sala e pelo quarto. Correu de incertezas, deixou trancado medos. Pegou o celular em cima da penteadeira.
Sabia que estava fazendo a coisa certa. Quando nos sentimos bem e felizes, indica que estamos no caminho certo, que estamos ultrapassando paradigmas, desafiando o óbvio, encarando os fatos. Preferiu transcender o seu jeito de sempre fazer, de sempre sentir.
-Alô?
-Olá, moça dos olhos inquietos.
Ela sorriu em silêncio do outro lado da linha.
-Olá, moço das mãos inquietas. Está aonde?
-Saindo da aula.
-Hum... eu passo aí e te pego. Me espera?
...
...
...
-Espero.
Jogou o porta níquel de oncinha dentro da bolsa, desceu as escadas, abriu o portão de madeira e saiu em direção ao carro estacionado. Ao entrar, olhou-se no retrovisor e observou sua expressão de felicidade. Deu partida no carro.
(...)
Antes disso: Trevo de 3 folhas (I)