"E ele num momento hesitou,
mas depois não resistiu,
me contou que mil balões voando foi o que ele viu.
Eu te presto atenção, tento ser sua flor, vem,
te faço um carinho, eu te toco mansinho,
te conto um segredo, te encho de beijo." Tiê
Acho que ele chegou até aqui naquela tarde. Na verdade tenho certeza. Veio correndo por entres vales encantados e frutas silvestres. Voou de longe até nós, percorreu galáxias e universos. Apareceu para nós brilhante e denso, aconchegante como chocolate quente no inverno, brilhantes com luzes azuis. Acertou o tom, era a nota cheia de flores e tinha uma melodia que abraçava almas. Era o Astronauta dos corações.
Te peço que fique. Passado o passado voltamos a seguir o Astronauta do coração. A gente segue a direção que o coração mandar... vamos pra lá. Um sonho bom, desses que se acorda sorrindo, desses que transformam o dia. Era azul na seda rara e rosa no algodão, era embriagado na sombra e sóbrio na luz, era lá, sol e dó, je t'aime de manhã até a noitinha ao som de jazz.
-Te vi chegar e meu coração bateu mais forte, minha mão suou.
-Soou.
-É suou!
-Soou o sino da igreja amarela, não escutou? No exato momento que cheguei.
-Suou e soou então.
O banco da praça era impecavelmente branco, com certeza os pintores tinham feito um belo trabalho no dia anterior. Ainda era possível sentir o cheiro e eles se certificaram se a tinta fresca não colaria nos casacos. Colocaram apenas o dedo indicador no banco, apertaram e depois riram. A tinta estava seca.
Duas visitas recentes do Astronauta dos corações:
- Ele entrou pela janela do quarto dela pela manhã, atravessou a cortina. Soprou leve pelo ouvido: "oi". Se acomodou na poltrona de balanço e a olhou dormir. Ela esboçou um sorriso e apertou os olhos. Quase acordou. Ele foi na pontinha dos pés até o piano, passeou os dedos pela calda até chegar ao teclado. O Astronauta dos corações tinha bom gosto e adorava conhecer novos casais.
- Enquanto ele se cobria com o cobertor xadrez vermelho, quase o ouviu. Se mexia muito durante a noite e sempre estava descoberto e tremendo de frio pela manhã. O Astronauta verificou se ele estava dormindo e sorriu no canto do quarto. Deixou um punhado de alegria perto do abajur, cor sorvete de creme. Olhou todos os carrinhos enfileirados na estante e lembrou-se da sua infância... antes de virar o astronauta dos corações -ou se você preferir: o amor- ele era bem pequenininho apenas um sonho, um carinho. Cabia nas palmas das mãos ou num ninho de andorinha.
-O que é isso que você trouxe?
-Chocolate quente com marshmallow, para te proteger do inverno.
-Me protege também com um abraço?
Faltaram palavras ao rapaz, ele se viu ao meio de carinhos e beijos, e de todo o seu desejo de apenas ter um grande amor. Ela estava ali, diante dos olhos. Faltou ar. Tinha asas para voar... ganhou um presente do Astronauta.
Preste atenção leitor:
- Faça um carinho, conte um segredo, valorize uma música, sonhe, aventure-se, sensibilize-se com o mais singelo gesto, beije, entenda, chore lágrimas de amor ou de dor, deseje e aproveite o presente!
- Enxergue os sinais do Astronauta, não desista, chame-o (a) de amor, segure-o (a) pelas mãos, lhe entregue flores ou livros, lhe entregue o coração.
Me chamam de Astronauta porque sempre estou fora de órbita. Sempre viajando pelos corações, dos mais fáceis aos mais rudes. Não me despeço dessa estória, estarei sempre com eles.
"Eu canto todas as manhãs desde que te conheci." Inquietos