Esses dias me deparei com questões sobre ser intenso ou não na entrega de si mesmo em romances ao longo da vida. Para ficar claro, sim, eu já tive muito medo de me relacionar e nem sempre fui intenso, por própria defesa (já acreditei que corações gelados sofrem menos), já tive pavor de olhar retrospectos ou medo do fim, medo simplesmente de não dar certo. Será que sobreviveria? Existiria vida pós você? [...]
Então, após alguns anos e (des)amores fracassados, surgia tal dúvida: engato a segunda e deixo tudo seguir brando ou engato a quinta marcha e sinto o vento bagunçando meus cabelos?
Já ouvi: "vá devagar", "não se apegue" ou "não diga que não te avisei". Quase sempre acompanhado de olhares desaprovadores.
Minha opinião sobre engatar a segunda ou a quinta marcha em um relacionamento continua seguindo tal linha de raciocínio:
- Relacionamentos onde engatamos a segunda marcha:
- Entramos pisando em ovos, com cautela, receio, medo e outras palavras que não vem ao caso mas que te transformam em um monte de merda, o relacionamento pode até ser mais brando, ser mais tranquilo, menos turbulento, com atritos menores... porém, vem agregado de menos tesão, menos desejo, uma felicidade mais ou menos, uma satisfação meia bomba, um bem estar mais para lá do que para cá. Tudo fica no meio termo, inclusive o pau que não esconde a insatisfação e prefere um repouso na cueca boxer branca de algodão ao invés de desbravar terras nem tão interessantes.
- Relacionamentos onde engatamos a quinta marcha:
- Começamos com desejo, com vontade, inteiro. Transformamos nossos momentos em algo quase apocalíptico. Ficamos com tesão na mesa do café. Falamos a verdade sem se preocupar em ser cafona ou clichê... obtemos os melhores sorrisos, os melhores olhares, os melhores beijos -aqueles que terminam e se iniciam novamente, com tesão e entrega. Esses relacionamentos vem agregados de Wasabi para temperar nossas sacanagens, de endorfina, adrenalina, dopamina... é satisfação que pulsa e pula no peito. Nada fica cinza ou morno. Vem de bônus track cuecas meladas antes do sexo, por puro desejo, vem acompanhado de entrega.
Prefiro a entrega, engato mesmo a quinta marcha.
Eu me entrego aos seus olhos verdes, suas camisetas estampadas e até para os sashimis + seu charme de comê-los com hashis.
Me entrego para os seus sorrisos-de-criança-que-ganhou-presente-novo ou para as suas gargalhadas quando faço cócegas em você.
Me entrego para os dias ensolarados ou molhados, para as cores da sua alegria ou do céu. Posso abrir o guarda chuva ou vestir bermuda, ao seu lado isso é mero detalhe. Também me entrego para as Stellas Artois meia-quente-meia-gelada-pós-beijo. Me entrego para os seus cheiros, para os seus gostos.
Me entrego para sua boca buscando a minha. Para a sua língua passeando pela minha orelha. Me entrego para os sons da sua alegria.
Acho quase indescritível a sensação de deixar-te livre para ir e me entrego quando você me ligar no outro dia querendo me ver, marcando um almoço no expediente ao sábado, ou um café no domingo a noite. O encontro mais foda de todos é esse que parte de você sem o meu esforço. Meu esforço é só sobre você.
Eu me entrego aos nossos corpos colados de suor e tesão, com gosto de sal, com gosto de mar.
Me entrego aos seus e-mail's breves, desses com uma só palavra: SAUDADE.
Me entrego ao seu bordão: "palhaçada". Seu bordão mais seu sorriso, sempre acompanhado de olhos brilhantes e com mira. Me fita, me mira e me tira: me tira do sério, me tira os sentidos e depois tira a minha cueca.
Me entrego porque acredito que vale mais a pena quando nos doamos por inteiro, o sabor da conquista é melhor.
Comigo não tem meio termo e enquanto eu te ligar, mandar e-mail's e torpedos sacanas, pode ter certeza que terá algo inteiro, intenso, vermelho, apimentado e cheio de tesão. Algo com desejo, verdade e entrega. Algo na quinta marcha.
Tenho sono quando ouço pessoas pedindo para eu ir com calma. Tenho vontade de mandá-las ir a merda e continuar seus relacionamentos mornos, desses que não se vive por medo de morrer. Continuem andando no parque de mãos dadas e discutindo política. Prefiro falar sobre entretenimento em alguma King Size.