quarta-feira, 13 de junho de 2012

A linha tênue entre trair e atrair

"Infeliz daquele que, nos primeiros instantes de 
uma ligação amorosa, não acredita que ela vai ser eterna." Benjamim Constant

Quero teus olhos me comendo inteira, verbalize sacanagem no meu ouvido, seu puto! Coloque suas mãos grandes na minha coxa. Confira minha renda preta nova.
Quero a mão na cueca, a cerveja gelada, o Marlboro Light e uma cama com lençóis brancos. 
O suor pingando em cima de mim. O deleite de sua presença. Seus sorrisos sacanas de boêmio sonhador. Quero tudo. Acho que sempre quis [...]

Mundo promíscuo, mundo secreto, quando eu descruzo as pernas, cruzo outras fronteiras... tenho outros avatares. Sou Viúva Negra, Mulher Gato e Hera Venenosa. Cuidado! 

Eu me pergunto todos os dias: “Por que deixei você entrar na minha vida, ganhar um espaço que não lhe pertencia, por que me deixei aprisionar por você?" 

Me envolvi por seus beijos, por suas mãos grossas e quentes que passearam pelo meu corpo tantas  vezes. Me envolvi por sua boca quente, por sua imaginação libidinosa, por suas risadas que chegam a qualquer hora, em qualquer momento, mesmo quando elas não deveriam existir. 
Mas eu acho que é a sua malícia, o seu desejo e a sua cara de pau, isso é o que mais me fascina. 

De tanto querer comecei a agir. Passei horas escolhendo. Tirei as peças uma a uma, olhei e desaprovei quase todas... até que ele me apareceu quase como mágica: preto, sensual e ideal para a ocasião. E o caimento foi perfeito. Usei sombra fumê, esmalte vermelho, pintei os olhos... principalmente com desejos. A meia calça combinou com o vestido, combinaria com a cruzada de pernas. 

Me ganhou no papo, no olhar, com a malícia de me hipnotizar mesmo quando eu não quero, mesmo quando eu prometo para mim mesma que não quero nem sua sombra perto de mim. Quebrei tantas promessas desde de que você apareceu na minha vida, não consigo nem contabilizar o saldo negativo que fiquei com o Cara lá de cima, e tudo isso é sua culpa, somente sua, porque eu não consigo sentir a culpa que gostaria. Sabe, às vezes eu até tento, mas não consigo. 

Desci pelo elevador e senti os olhares ao me redor. O porteiro quase não disfarçou e me acompanhou com a cabeça enquanto eu descia cinco degraus, antes de passar por baixo do Flamboyant florido. Havia mais flores em mim. 

Acho que a culpa que eu tanto quero e não vem é porque com você eu vivo em outro mundo, um mundo todo meu, todo seu, todo nosso e que eu adoro. Não temos compromisso, não temos explicações, não temos medos, não temos ressentimentos. Temos eu e você. Temos os nossos desejos. Temos aquela vontade de se entregar a qualquer hora, vontade de deitar e rolar no chão, no carro, naquela sua mesa do escritório - mesa onde fazemos sexo descompromissado, onde eu me entrego de verdade para você. E você me pega, me aperta, me faz toda sua, seus olhos penetram nos meus, suas mãos passam pelas minhas coxas tão suas. E naquela mesa que eu me viro de costas e do avesso para você. Só para você me pedir aquilo que eu insisto em não dar, só pra ter a garantia de mais um encontro com você. 

Quando cheguei seus olhos primeiro brilharam, depois desfrutaram de cada milímetro do meu corpo. Foi gentil e celebramos com um brinde. Houve um beijo. E depois um carinho na nuca, desses que arrepiam todos os pelinhos, desses friozinhos que percorrem a espinha. 

Quando estamos nós quatro, esse é o grande problema... 

Mordeu minha boca, me segurou como se segura um prêmio. De certa maneira  eu era. Tão nova, tão proibida, quase nua, quase sua. Quase, se não fosse... 

Pensamentos confusos tomam contam de mim. Fico num estado de nervos, quase me sinto mal, quase me sinto péssima. Fico me perguntado e me questionando o tempo todo se isso está certo. 
Será certo pensar em você o tempo todo, até naquele momento em que estamos nós quatro ali na mesa  de jantar? Evito cruzar meus olhos no seus, evito mexer as mãos com medo de que num ato involuntário elas se encostem. Fico perdida, não sei com quem conversar, para quem devo dar atenção, para quem dirigir a palavra. Não relaxo, não me entrego naquele encontro com mais personagens, porque meu único pensamento está em você, na nossa mesa de escritório. 

O que era para ser diversão, de repente começa a tomar outra forma, começa a crescer e tomar dimensões que me assustam. Toda a situação é incomoda. 

E quando ela tenta me agradar? Faz o esforço para se envolver em minha vida, saber das minhas histórias, dos meus últimos medos e dos meus momentos felizes. Eu paro, respiro, penso “Não posso ser sua amiga, será que não percebe que o seu marido é um..” Ela percebe que minhas novidades são poucas e nada atrativas, então, começa a despejar todo o sofrimento dos últimos meses, todos os medos, todas as dores de cabeça que teve nos últimos dias pelos filhos, pelo trabalho, pelos amigos. 
Reparei que ela ama falar sobre você. Ela fala do seu sorriso, das suas noitadas, da sua cara de pau de inverter um assunto. Fala da sua mesa, fala que o sexo com você não é bom (e eu penso “claro que é sua boba, você que não usar a criatividade), fala do gosto que você tem (já conheço... me dá sono ouvi-la) e da sensação que você provoca nela quando você chega só de manhã. 
Nesse momento eu fujo da conversa, eu me desconcentro. Olho pra você quase pedindo pelo amor de Deus para me tirar dessa saia justa. 
De repente as coisas voltam ao normal, voltamos a ser dois casais amigos. Naquela mesa nós quatro tão entrosados. Você tão interessado, tão engraçado, tão dela (e meu) que me submeto a calar e escutar, e por dentro me questiono como você consegue ser tão natural. Vejo vocês conversando como velhos amigos, rindo juntos, percebo que você é fascinado por ela, você ri de tudo que ela fala, concorda com tudo. Até com a viagem que ela está agendado para a próxima semana, só nos quatro, aquela mesma que pedi pelo amor de Deus pra você não concordar. Porque eu não conseguiria ficar dois dias ao seu lado nessa situação. 

Antes de entrarmos no motel, tirei o anel do anelar e coloquei na bolsa. Junto, todos os futuros pesos na consciência. 

Entrega.

Desejo.

Êxtase.

No outro dia uma ligação, um e-mail e uma data para o nosso futuro encontro, aquele com direito a mesa, a chão, corpo, pele, desejo, paixão, aquele só nosso, só a dois. 
-Consegue passar hoje a noite aqui no escritório? Vou trabalhar até mais tarde. Ele indagou.
Pensei em dizer “não”, mas iria contra os meus desejos. E eu não resisto aos meus desejos, nem aos meus namorados.

Um comentário:

Daniele Oliveira disse...

Me limito apenas a dizer: Uau!
E a confessar que adoro textos que me fazem sentir a mais pura das mulheres e que deixam meus pecados tão infantis rs... ;)