sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Só tinha mesmo que ser você

É a sua cabeça sobre meu o peito, é a trança folgada e o jeans claro desfiado, combinando com aquela blusinha cinza do Mickey que você usa de pijama, aquela que adoro, aquela com dois furinhos e muitas histórias para contar. São suas mãos acariciando as minhas e gesticulando timidamente enquanto aponta para a nuvem em forma de coelho. Seu batom vermelho. É o tiquetaquear do relógio da sala [...]
Ininterrupto. O cheiro do bolinho de chuva e do café fresco. Sua boca procurando a minha. O gosto da sua saliva misturado ao chá de camomila e o seu pescoço cheirando a jasmim. É a rede amarela de crochê da tia Mallu que se transforma em nosso ninho nos feriados. São os pardais e a laranjeira carregada. O ipê florido. É o céu, que de tão azul parece até pintado como algodão umedecido em tinta guache.

É a mão no meu colo no cinema, cada susto um aperto. Nossa foto na sua penteadeira. São os livros que me presenteou aos vinte e cinco, vinte e seis e vinte sete. Fante, Bukowski, Drummond. É nosso cachorro no seu quintal, vem de mansinho, encosta o focinho gelado no meu braço a espera de um sorriso, um afago. É sua orquídea azul na janela da varanda e o jazz a noite com prosecco. Nós dois apertados, descalços sobre o tapete da sala do apartamento. A girar.

É o convite para a sua cama. O vinil preferido. Dylan. É o seu companheirismo e o seu brigadeiro de panela. Sua ligação de madrugada. Suas broncas. Minhas cuecas com bolinhas que te irritam tanto, eu sei. Comprei meias novas e camisetas brancas.

É o seu jeito de sorrir que me contagia mais que as melodias de Chico ou Camelo. Fico em transe. Gosto que me presenteia com sussurros de sacanagens no café da manhã, misturados com geléia de damasco, melão picado, queijo polenguinho e iogurte. É o seu sorriso de criança que ganhou presente novo, são suas gargalhadas quando faço cócegas, é aquela cerveja meio-quente-meio-gelada-pós-beijo, que morou na porta do carro enquanto eu me perdia em você.

Fico ensolarado com esses presentes. Fico imensamente feliz por suas manias, que entrelaçadas as minhas não me deixam nublar. Me sinto o cara mais feliz e sortudos de todos, aquele que apostou sua última ficha em Vegas e saiu milionário depois de cinco cartas de copas. Royal Flush.

Me rendi aos teus cheiros, me rendi aos teus gostos. Me entreguei pra sua boca buscando a minha, para o seu corpo com gosto de sal, com gosto de mar. Me vi de quatro para os sons da nossa parceria.



2 comentários:

RENATO VIDAL S. disse...

entendes tão bem tudo, e o dizes de uma forma única. teu blog esta belo Saludos :)

Briccio disse...

Ahhh Renato. Obrigado pela presença constante por aqui. Que bom que gosta, são os meus maiores tesouros entregues para pessoas como você.