"Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro! Dentro de um abraço não se ouve o tic tac e, se faltar luz é ainda melhor... Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve." Martha Medeiros
-Pensei em dizer o quanto eu te amo!
-Mas você está dizendo, então pensou e disse.
-É, pode ser! Você está ausente esses dias amor.
-Muito trabalho, muito estresse, pouco dinheiro e muita encheção de saco.
-É, pode ser! Hoje de dia, enquanto eu estava no shopping pensei em você.
-Nem vem que o meu cartão de crédito está com o limite estourado, e recebo só na semana que vem, então vamos ter que ficar em casa vendo filmes até novembro.
-É, pode ser! Só que eu pensei em você porque eu vi uma camiseta na Levi's que combinaria com esse jeans que está usando.
-Mas o Natal está longe, ainda estamos em Outubro. Por que você gastaria dinheiro à toa?
-Não sei... só estou te dizendo o que pensei enquanto estive no shopping.
(silêncio)
-No mês que vem faremos 3 anos juntos, não acha que poderíamos marcar de ir comer foudue e tomar vinho naquele restaurante que comemoramos nosso primeiro ano de namoro? Aquele que você adora.
-Acho que não. Eu já não gosto mais desse restaurante e de tantas outras coisas faz tempo.
-O que aconteceu com o seu humor? Parece que foi para outro planeta?
-Você precisa ir para outro planeta!
(silêncio novamente)
-Será que preciso procurar um psicólogo? Será que estou surtando?
-Pega uma cerveja na geladeira por favor amorzinho, e traz o cinzeiro também porque eu vou fumar.
-Claro, só um minuto.
Foi na cozinha, abriu o armário branco e pegou a caneca que ele gostava de tomar cerveja.
Voltou para a sala com o vestido branco novo que comprou durante o dia.
-Está gostosa hoje, se produziu assim para mim?
-Entrego os pontos... para quem seria?
Ele se embebedou com umas dez cervejas, falou de futebol e mulheres gostosas como se ela fosse um amigo.
Ela não conseguia entender como um dia fora capaz de amar um cara desse. Tentou buscar boas recordações, procurou no primeiro ano, depois no segundo e por fim no terceiro. Se lembrara de alguns bons momentos, um pouco de afago, de uma carícia e de alguns presentes dele. Percebeu então que o problema não estava nele. Ele era o troglodita e merecia alguém assim como ele, dos tempos da caverna. Percebeu que ela própria era o problema, a situação era o problema, e aceitar continuar com tudo isso era o maior de todos os problemas.
Só havia um detalhe: Ela amava 'o troglodita'. 'O troglodita' outras vezes lhe entregara flores, cartões postais, sms com frases de Saint-Exupéry durante a tarde entre outros mimos.
-Mas e se eu não suportar viver sozinha? -Pensou enquanto decidia.
Ela detestava mudanças, sempre achava que não conseguiria.
Voltou as 23:30 para sala, olhou para ele dormindo no sofá. Desligou a TV. Se encolheu embaixo dos braços, colocou a mão dele sobre a dela como se a protegesse e chorou enquanto tentava dormir.