Quando te vi, dois sábados pós fim, olhei seus olhos por alguns instantes. Eles estavam tão felizes, eles estavam tão verdes e eles estavam tão livres.
Partiu num sábado a noite. Deixou comigo seu cheiro, seu gosto, seus modos, suas pernas e bunda. Nem quis saber como fiquei. Nem se importou com a minha morte, com o sal escorrendo pela face e molhando a boca. Molhou a boca com o resto, com a sobra, com o que ficou de nós... com o que restou de mim [...]
Concordo que não devemos pedir o amor de ninguém e muito menos exigir a presença de alguém. Concordo que amores devem ser livres... as pessoas vão e voltam, sem cobranças, voltam porque querem a presença.
Mas como aceitar o fim do espetáculo, como encarar o fim da peça? O que para mim era o início, para você o fim. O que para mim era doce, para você já não era mais suficiente e importante.
Me deixou torto, sem saber o que fazer com as horas, sem saber qual direção seguir e sem saber o que fazer com o que restou de mim. Sinto uma falta absurda de quem eu era. Sinto falta de como me sentia fodão ao seu lado e tenho pena de como me sinto um lixo hoje... nesses dias que passam arrastados.
Olhei durante muito tempo para você e pensei "que pessoa foda que escolhi para ter ao meu lado". Achei que pensasse da mesma maneira. Foram tantos os convites feitos por você. Foram bares, Stellas, motéis, cinemas, praia, sua casa, seu álbum de infância, sua academia... como pode sumir assim feito fumaça?
Em um dia está ao meu lado, compartilhando sua vida e de repente desaparece e quer que eu te esqueça em duas semanas. Não. Definitivamente não.
O que eu faço com a vontade de ouvir você sorrindo?
O que eu faço com a vontade de te olhar no olhos, te tocar sua boca. Te lamber suas partes?
O que eu faço com a vontade de te olhar dormindo sobre meu peito, como fez tantas vezes?
E se eu lembro do seu cheiro? Como faço para não desejar seu pescoço?
O que eu faço com a vontade de tomar aquele prosecco e te ver daquele jeito: Você na versão prosecco.
Como faço pros meus olhos não transbordarem de saudade, toda vez que percebo que não está mais ao meu lado?
Como faço para voltar a ser o que fui um dia?
Como faço para me livrar do peso dessa despedida?
Como saio ileso disso, assim como você saiu?
Te conto um segredo: Fez eu chorar TODOS esses dias que se arrastaram até hoje, desde o dia que sumiu até a merda desse dia, que para mim não tem mais nenhum sentido. Senti raiva, senti vontade de dormir por meses, imaginei você com outro, imaginei outro tocando as suas (tão minhas) coxas, a sua bunda (tão grande e redonda, como fiz questão de ressaltar várias vezes). Entrei em parafuso. Experiência de quase morte. Luto.
O que me doí mais é ter que jogar tudo no lixo: O amor que sinto por você, a vontade de te ver todos os dias, bem humorado, mal humorado, o carinho, preciso jogar no lixo a vontade de afagar seus cabelos e te tocar, a vontade de... , os planos, os sonhos. Tenho a obrigação de juntar tudo, colocar em um saco de lixo preto e colocar para fora de mim.
Se vou sobreviver? É claro que vou. Sempre sobrevivi. Foram tantas as paixões. Menos intensas é claro, demorei 10 anos para dizer "eu te a.." Méritos para você que arrancou isso de mim. Méritos pra mim por conseguir estar ao lado de quem se ama.
De uma certa forma tenho mais a agradecer. Fui intenso, verdadeiro e feliz, estive do lado de quem amei, talvez ainda a... Não são todas as pessoas que conseguem isso. Existem pessoas que passam a vida inteira amando e nunca consolidam tal romance.
Aceitar o fim pode me custar mais baldes de lágrimas, mais vontade de dormir e menos de viver, pode me custar alguns kilos a menos, pode me custar a quase loucura que me encontro. Mas acredito que ainda vou olhar tudo isso e conseguir sorrir, sem qualquer traço de tristeza.
Já que hoje é 1 de abril vou mentir: "Já te esqueci!"