"Nunca diga adeus, porque dizer adeus significa ir embora e ir embora significa esquecer." Peter Pan
A última vez que dormi com você foi a mais dolorosa dos meus vinte e poucos anos. Não por algo que fez ou disse, sempre foi tudo tão perfeito, até nas suas imperfeições eu te admiro. Nosso breve momento foi inesquecível e mágico. Doeu porque eu sabia que não dormiria com você na noite seguinte, nem te olharia acordar e correr para o banheiro só de toalha, não seguraria suas mãos pela madrugada e nem me encaixaria, sob seus lençóis, em você no friozinho da madrugada aí da sua cidade. Doeu por eu saber que não estaria com você pelos próximos dias, semanas, talvez meses ou anos.
Então, na nossa última noite, tratei logo de me encostar o mais próximo possível das suas costas, entrelacei minhas pernas morenas às tuas brancas, cheirei sua nuca, brinquei com os seus cabelos, beijei e lambi tuas costas para não esquecer seu gosto, olhei suas costas brancas sardentas, que tanto amo, como um menino que observa as estrelas. Queria te gravar nas minhas lembranças, com uma riqueza de detalhes é claro. O peso da despedida chegava até mim e desbotava meus olhos castanhos. Chorei de um modo silencioso, para não interromper seu sono e nem minha despedida.
Eu precisava voltar para minha cidade e você continuaria na sua, a 600 km de distância. É desse peso que me refiro, é dessa merda de palavra chamada distância. Não posso pegar meu carro e ir até sua casa, com lasanha, wafer amandita e vinho tinto, como fiz na sexta-feira.
Essa dor sufoca, dói o peito, paralisa a vida. Essa dor sopra baixinho no pé do ouvido do meu coração: 'É provável que se vejam mais duas ou três vezes no próximo ano." E isso me rasga o peito e me faz querer dormir (minha breve fuga da realidade).
Consigo lembrar do livro que te entreguei com a minha dedicatória boba, lembro dos seus filmes expostos na sua estante, da disposição das suas roupas penduradas nos cabides do seu armário, das suas meias e roupas íntimas na gaveta... essas lembranças não doem.
Consigo lembrar dos nossos banhos juntos, lembro de você comendo sushi e eu registrando com a câmera do celular, a pizza e cama meia-eu-meia-você, dos nossos corpos nus deitados ou de pé no quarto, do sabor das suas partes e saliva, dos seus olhos azuis e cabelos pretos, do seu lindo sorriso... essas são as lembranças que doem, que escorrem pelos olhos e que me deixam em
stand by, sem conseguir seguir sem você.
-Cheguei em São Paulo. Obrigado mais uma vez por tudo. Estava tudo ótimo.
-Chegou rápido. No horário, na real. Imagina! Que bom que gostou. Pena eu estar com essa gripe insuportável.
-Foi ótimo, relaxa. Superou todas as minhas expectativas.
...
...
...
Escrevi com tinta guache no futuro: 'Até um dia'.
(...)
Depois disso: O peso do até um dia - Parte 2, O peso do 'até um dia' - Parte 3, O peso do 'até um dia' - Parte 4, O peso do até 'até um dia' - Parte 5, O peso do 'até um dia' - Parte 6, O peso do 'até um dia' - Parte 7, O peso do 'até um dia' - Final